

Natal: a única data em que o inferno vem decorado com pisca-pisca.
Exagero? Vamos lá:
Os convivas chegam com presentes envoltos em papel caro e críticas embrulhadas em falsa delicadeza, uma opinião não solicitada e um talento especial para gerar constrangimento em tempo recorde.
Tem o convidado fitness, que olha para o pernil como se fosse uma provocação pessoal do universo e pergunta, com ar de denúncia: “Isso é light?”. Ele come duas folhas de alface, três julgamentos silenciosos e sai dizendo que “se permitiu”.
Tem o parente gourmet, que dá uma garfada no arroz e solta: “Interessante… lembra um que comi em Lisboa”. Ninguém perguntou. Ninguém foi a Lisboa. Mas ele esteve. Várias vezes. Segundo ele.
O especialista em torta de climão aparece logo depois. Ele não discute. Ele lança frases soltas, perfeitamente calibradas para gerar silêncio. Algo como “engraçado ver todo mundo reunido… apesar de tudo”. Olhares de mal estar. Ninguém respira. O peru treme.
O parente conspiracionista surge com a taça na mão e certezas absolutas. Em cinco minutos, ele conecta o nascimento de Jesus, o preço do azeite e um plano secreto de dominação mundial. O vinho acaba. O assunto não. Isso se não descambar para a política.
Tem muitos outros: o que bebe e vira filósofo, o vegano do discurso pronto, e o que não pode faltar: o tio do pavê, que mudou a piada para “qual a semelhança entre a árvore de natal e o papai noel?” *
Unidos pelo trauma, pelo colesterol, no final todo mundo se abraça, enquanto alguém diz: – o importante é estarmos todos juntos!
- – Ambos têm as bolas de enfeite!

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